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12.9.03

Crônica do Banco do Brasil

Não é minha intenção imitar a genialidade de Luí­s Fernando Verí­ssimo, Armando Nogueira e Flávia Lappa. Porém, o evento do Banco do Brasil é digno de uma crônica.
Ir a bancos pagar contas do escritório faz parte das minha funçes em Telini Advogados Associados e na última dessas idas meu destino foi o maior banco brasileiro, patrocinador da seleção nacional de vôlei, do Guga, um dos maiores fundos de pensão privada desse território, o Banco do Brasil. Minha obrigação era enfrentar aquela tremenda fila, típica de grandes bancos, para pagar uma continha qualquer. Por sua vez, tal continha não podia ser paga em nenhum outro estabelecimento pois já havia estrapolado a data de vencimento. Sim, minha única saí­da era o Banco do Brasil.
A longa fila não incomoda apenas escritores blogueiros, incomoda todos ordinários usuários de bancos lotados. Inclusive uma dona de sapatos marrons cuja indignação levou-a a disparar suas crí­ticas ao atendimento dos ditos "bancos do governo". Disse que os particulares são muito mais eficientes pois os funcionários correm o risco de "irem pra rua" pelo seu descaso, não possuem o escudo dos funcionários públicos. Vale lembrar que o Banco do Brasil não é o que podemos chamar de "instituição pública". O Governo Federal detém 51% das ações da empresa, o resto é dividido, naturalmente, entre outros acionistas.
O caso é que a dona dos sapatos marrons encontrou um inimigo na fila, e, pasmem, não tratava da minha pessoa. O senhor do casaco jeans, que esperava pacientemente alguns lugares atrás dela na fila, defendeu o atendimento do BESC, um banco público. "O BESC é o pior de todos.", disse a dona dos sapatos marrons, "Já devia ter sido fechado, liquidado, quitado." e continuou seu raciocí­nio atestando "Pra mim, deviam privatizar tudo, aí­ sim as coisas funcionariam direito.". Continuaram discutindo o senhor do casaco jeans e a dona dos sapatos marrons, no entanto, apenas ouvia-se a mulher, pois falava alto e forte, como fazem aqueles de posição radical. As brandas contestações do homem pareciam não conseguir fugir do espesso bigode que ele usava.
Não sei como, mas o debate sobre o atendimento dos bancos mudou para um debate comparativo do Governo Lula com o Governo FHC e foi quando mais atenção prestei ao casal. A dona dos sapatos marrons atestava que o barbudo do PT fez muito mais pelo paí­s nesses "cinco meses" (ou oito) que o quatro olhos tucano havia feito em oito anos. Disse também que o incentivo que Lula está dando pro setor agrário é algo maravilhoso (ela não deve ter lembrado dos sem-terra). O ponto alto de sua explanação foi quando sugeriu que o grande problema da administração do Sr. Silva é o Congresso (onde a maioria é petista) corrupto, que impede que o presidente faça as devidas reformas. Não satisfeita em fazer comentários desprovidos de iluminação, aconselhou: "O Lula devia pegar as forças armadas e fechar o Congresso, e os deputados federais também!" (a ditadura foi pouco pra alguns).
Queria reproduzir alguns argumentos do senhor de jaqueta jeans, mas suas palavras insistiam em não alcançar meus ouvidos. Com certeza o que falava estava descordando da opinião da senhora dos sapatos marrons, tamanha era a revolta da mulher. Aquela apresentação foi algo surpreendente pra quem acredita que a elite pensante do paí­s está enclausurada nas universidades. Também foi uma interessante constatação do eleitorado do Luí­s Inácio, que ao mesmo tempo pede privatização e fechamento do Congresso.
Mesmo quando chamada para ser atendida no guichê cinco, a dona dos sapatos marrons não cessou a argumentação. Continuou sim, agora para o caixa do Banco do Brasil, a criticar Fernando Henrique e defender Lula. Quando a mulher foi embora, ironicamente, o senhor do casaco jeans foi chamado pro mesmo guichê cinco que havia atentido-a. Não sei se por orgulho ou por acreditar que devia desmentir tudo que sua rival dizia, o homem também pôs-se a apresentar suas idéias ao paciente caixa.
Chegou minha vez, entretanto o destino não éassim tão irônico, fui chamado ao guichê seis, onde uma senhora disse "Vou te atender hoje, mas você estava na fila errada". Realmente, meu lugar não era aquele.