Mecenato na Terra dos Pobres

Jorge Furtado, Grupo Corpo, Equipe BMW/Williams: Patrocinados pelo Governo.

Vocês ouviram, há algums semanas, o cineasta hipócrita Jorge Furtado (do bacana "O Homem que Copiava") falar que cinema no Brasil se faz com dinheiro público: com o dinheiro de um curta se constrói várias casas populares, com de um longa se faz um hospital. Pois é, os filmes de Furtado estão inclusos nesta lista de apropriação de dinheiro do contribuinte. Como também estão inclusos o Flamengo, a Williams, o grupo artístico Corpo, todos patrocinado pela Petrobrás.

Esta é uma ferida que o pessoal não gosta de cutucar. O luxo das artes num país de famintos. O dinheiro que os pobres esperam ser usado para lhes garantir saneamento básico, saúde e educação é usado para garantir o lazer dos ricos, pois são os ricos que freqüentam cinemas, teatros e "espaços culturais" (Deus! que expressão aristocrata!).

A atriz havaiana separada e, acima de tudo, loira Nicole Kidman, quando recebeu o Oscar por sua interpretação em "As Horas" indagou por que estavam eles ali, celebrando uma entrega de prêmios, enquanto ocorria a Guerra do Iraque. A moça mesmo respondeu: "Porque arte é importante."

Ora, claro que é. Agora explica para um desses dependentes de "Fome Zero" ou coisa parecida que o pão deles é duro porque o "povo" quer que "Carandiru" concorra ao Oscar. Que a água é marrom porque "interessa à nação" que a Williams corra com um logo da Petrobrás na asa traseira. Que existem poucos médicos atendendo pelo SUS pois é preciso pagar R$1,2 milhões para John Neshling reger a Orquestra Sinfônica de São Paulo.

Dá um tempo! Cultura é importante, é o alimento da alma. Mas não é só de alma que vive o homem.