Ela voltou.

Existem certos personagens que não se confortam com o exílio do esquecimento. Pois que reaparece na minha vida a figura da Dona dos Sapatos Marrons (sim, agora com letras maiúscula, seu vulgo merece tratamento de nome próprio).
Foi neste sábado, enquanto paciente esperava eu na fila de bilhetes da Autoviação Catarinense. Desta vez ela calçava sandálias bege.

A mulher chegou desesperada não respeitando a convenção da fila e puxou uma bilheteiro que não estava trabalhando até então.
- Moço, que horas é o próximo ônibus para Itajaí?
- Ih! acabou de sair. O próximo é daqui uma hora.

A dona dos sapatos marrons ficou obviamente muito irritada com a situação, entretanto mais ainda iria se incomodar. Ela avistou um ônibus da empresa parado na plataforma e logicamente perguntou se não se tratava daquele que acabara de perder. A dona queria embarcar num auto já que este ainda não havia partido.

- Realmente é esse, mas ele está lotado. - informou o bilheteiro.
- O que?! Isso é má vontade de vocês. Duvido que esteja lotado um ônibus às duas da tarde de um sábado! Que país é esse? Custa imprimir uma passagem? Já tás com o nariz enfiado no computador!
- Minha senhora, você nã entende? O ônibus tá lotado. O próximo, por favor.

O simples ato de cumprir sua profissão e promover o andamento da fila na sua ordem correta praticado pelo bilheteiro gerou ira tamanha na Dona dos Sapatos Marrons. Urrou:

- Seu "guinorante"! Você tem que me atender! Você me respeita, respeita minha idade! Eu tenho 57 anos. Seu... BAGRINHO! - e dirigiou-se a outro atendente. - Esse guinorante pulou minha vez. Já passaram 3 na minha frente! Que país é esse! Custa me vender um bilhete? Duvido que esteja lotado um ônibus no sábado ás duas da tarde. Passou 4 na minha frente!
- Senhora, você tem que pegar a fila
- EU TAVA NA FILA! Mas aquele bagrinho não me atende! Custa me dar um bilhete?! O ônibus ainda nem saiu!
- Mas tá lotado
- DUVIDO! Duvido que teja lotado! É má vontade de vocês.

A Dona dos Sapatos Marrons, a qual chegara depois de mim na rodoviaria, foi atendida na minha frente. De nada adiantou os brados que disparara. Venderam-lhe um bilhete para as três e quinze com destino a Itajaí, o que a fez esperar aquela uma hora indesejada pela condução. Mesmo ônibus peguei pra chegar em Balneário Camboriú onde vi ela conversando com outra senhora. Coitada daquela mulher.